A Importância da Formação Continuada de Professores Alfabetizadores para uma Educação de Qualidade
- Thalia Fernandes
- 16 de mai.
- 5 min de leitura

Por que é importante a formação de professores alfabetizadores ?
A formação de professores alfabetizadores é um dos pilares fundamentais para garantir a qualidade da alfabetização no Brasil. Ser alfabetizador vai muito além de ensinar a ler e escrever — exige compreensão teórica, sensibilidade pedagógica e compromisso com o desenvolvimento humano de cada aluno.
Segundo Lucilene Araújo do Nascimento (2013), tornar-se alfabetizadora é um processo de construção identitária, que exige reflexão constante sobre a prática e busca contínua por formação. É um percurso que demanda não apenas conhecimento técnico, mas também um olhar investigativo sobre os contextos em que o educador atua.
Formação Inicial de Professores Alfabetizadores: limites e potencialidades
A formação inicial docente representa a base do exercício profissional, mas muitas vezes não prepara de forma suficiente para os desafios da alfabetização. Cursos de licenciatura tendem a priorizar o conteúdo teórico e deixam de lado experiências práticas significativas com a linguagem escrita.
Nesse momento da trajetória, o professor começa a reconhecer a importância da formação continuada para aprimorar sua prática. Surgem, então, reflexões críticas sobre a formação recebida e sobre como avançar no desenvolvimento de competências pedagógicas.
Como apontam Saviani, Praciano e Nascimento (2013), é essencial que a formação de alfabetizadores articule teoria, prática, reflexão e sensibilidade pedagógica, elementos indispensáveis para enfrentar os desafios da sala de aula.
Formação Continuada de Professores: uma jornada de aperfeiçoamento constante
Ao iniciar sua atuação profissional, o professor alfabetizador logo percebe que precisa continuar aprendendo. A formação continuada surge como um espaço privilegiado para reflexão, atualização e aprimoramento pedagógico.
De acordo com Magda Soares (2000), alfabetizar não é apenas ensinar o código escrito, mas também inserir os alunos nas práticas sociais da leitura e da escrita.
Já para Maurice Tardif (2019), os saberes adquiridos na experiência só se transformam em saberes profissionais quando são teorizados, discutidos e reelaborados à luz de uma formação permanente.
Desafios e soluções na formação de professores alfabetizadores
A atuação em salas de alfabetização traz muitos desafios. A seguir, destacamos os principais obstáculos enfrentados por educadores e algumas estratégias para enfrentá-los de forma eficiente:
Dificuldades de aprendizagem dos alunos, como o reconhecimento de letras, compreensão de textos e associação entre sons e letras: podem ser enfrentadas com formação baseada em teorias da aquisição da linguagem (Ferreiro, Teberosky, Morais), metodologias ativas e o uso de jogos e atividades lúdicas.
Falta de recursos pedagógicos e ausência de leitura em voz alta nas salas: pode ser resolvida com a criação de acervos escolares, incentivo à leitura compartilhada e utilização de materiais acessíveis e criativos.
Superlotação de turmas, com mais de 30 alunos por sala: exige organização de agrupamentos produtivos, apoio da coordenação pedagógica e aplicação de estratégias de ensino diferenciadas.
Desgaste físico e emocional do professor alfabetizador: pode ser minimizado com acolhimento institucional, criação de espaços de escuta e troca entre colegas, além de ações voltadas ao cuidado com a saúde mental.
Falta de aproximação entre escola e família: recomenda-se a criação de canais de comunicação eficientes, realização de reuniões participativas e desenvolvimento de projetos que envolvam o entorno escolar.
Insegurança e ausência de formação específica na alfabetização: podem ser superadas com a participação em cursos, oficinas, grupos de estudo e programas de mentoria com professores mais experientes.
Autores e obras que fortalecem os debates e práticas em alfabetização
Estudar autoras e autores que dedicaram suas trajetórias ao campo da alfabetização é essencial para qualificar a prática pedagógica e ampliar o repertório teórico dos educadores. Essas obras não apenas fornecem subsídios metodológicos, mas também provocam reflexões profundas sobre os sentidos de ensinar e aprender a ler e escrever em contextos diversos. A seguir, apresentamos referências fundamentais que alimentam os debates, os diálogos e as transformações nas práticas docentes:
Paulo Freire: Um dos maiores educadores brasileiros, Freire revolucionou o campo da alfabetização ao desenvolver o Método Paulo Freire, baseado em palavras geradoras e no princípio da contextualização. Para ele, o ensino da leitura e da escrita deve partir da realidade do sujeito, promovendo consciência crítica e emancipação. Sua contribuição ainda ecoa como base teórica e política para uma alfabetização com sentido social.
Emilia Ferreiro e Ana Teberosky – Psicogênese da Língua Escrita: Essa obra transformou o entendimento da alfabetização ao apresentar a criança como sujeito ativo na construção do sistema de escrita. Ao pesquisar como as crianças pensam sobre a língua escrita, Ferreiro e Teberosky romperam com os modelos tradicionais e trouxeram novas bases para o planejamento pedagógico. É uma leitura indispensável para compreender os processos de aprendizagem na alfabetização. Neste link, é possivel ler um pouco mais sobre as contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização
Magda Soares: Considerada uma das maiores referências contemporâneas no campo da alfabetização no Brasil, Magda Soares desenvolveu o conceito de "alfaletrar", que articula alfabetização e letramento. Sua obra defende uma abordagem que considera as práticas sociais de leitura e escrita e a construção do sistema alfabético de forma integrada. Neste Link, vocês conseguem ler mais um pouquinho e conhecer a importancia dela para o campo
Delia Lerner – Ler e Escrever na Escola: o real, o possível e o necessário: Essa obra propõe uma visão crítica e possível da prática alfabetizadora, refletindo sobre as condições reais de trabalho docente e as possibilidades de garantir experiências significativas de leitura e escrita na escola. É leitura fundamental para quem deseja compreender os desafios concretos da alfabetização e superá-los com consciência pedagógica. Neste link, vocês conseguem conhecer um pouco mais sobre essa autora e suas obras.
E-book: Alfabetização – Apropriação do Sistema de Escrita Alfabética: Organizado por Artur Gomes de Morais, Eliana Borges Correia de Albuquerque e Telma Ferraz Leal, esse e-book reúne textos de pesquisadores do CEEL/UFPE e oferece uma visão atualizada e fundamentada sobre os processos de alfabetização. A obra trata de temas como reflexão fonológica, psicogênese, práticas de leitura e escrita, e formação docente. O e-book, disponível neste link.
Conclusão: formação de professores como garantia do direito à educação de qualidade
A alfabetização é um dos maiores desafios da educação básica brasileira, o aluno é o protagonista do processo e o professor junto com o aluno mediando todo o processo de alfabetização. A formação inicial do docente é apenas o ponto de partida; é por meio da formação continuada que ele amplia seu repertório pedagógico, compartilha experiências, atualiza sua prática e incorpora novos saberes que dialogam com as demandas da vida do estudante e com os desafios da sala de aula.
Essa trajetória profissional está profundamente vinculada ao compromisso constitucional com uma educação pública de qualidade. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205, reconhece a educação como um direito de todos e dever do Estado e da família, fundamentada na igualdade de oportunidades e na valorização dos profissionais da educação. Ou seja, garantir o acesso à formação adequada do professor alfabetizador é uma condição para assegurar esse direito aos alunos.
Nesse sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394/1996) determina que a formação docente deve integrar formação inicial e continuada, articulando teoria, prática e desenvolvimento profissional. De forma complementar, o Plano Nacional de Educação (PNE 2014–2024), por meio da Meta 16, estabelece diretrizes para assegurar formação continuada de qualidade aos professores da educação básica, reconhecendo seu papel estratégico na promoção da equidade e na efetivação dos direitos educacionais.
Dessa forma, compreender professor e aluno como protagonistas complementares do processo de alfabetização é essencial. Ambos constroem, juntos, experiências que transcendem a decodificação de palavras e envolvem cultura, identidade e transformação social. Investir na formação do professor alfabetizador, portanto, não é apenas uma ação pedagógica — é um compromisso com a justiça social, a inclusão e a concretização do direito à leitura e à escrita para todos.