Alfabetização, Letramento Digital e o Papel Transformador dos Professores
- Thalia Fernandes
- há 1 dia
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Introdução
A alfabetização e o letramento digital deixaram de ser tendências para se tornarem imperativos no cenário educacional contemporâneo. Nos últimos três anos, marcados por transformações tecnológicas e sociais intensas, as tecnologias digitais se consolidaram como aliadas indispensáveis no ensino e na aprendizagem de crianças em fase de alfabetização. Plataformas interativas, inteligência artificial, jogos digitais e estratégias de ensino híbrido não apenas ampliaram o acesso ao conhecimento, mas também desafiaram educadores a repensar metodologias e práticas pedagógicas.
Panorama das Tecnologias Digitais na Alfabetização
O uso de tecnologias digitais na educação infantil tem proporcionado novos cenários de aprendizagem. Recursos como vídeos, aplicativos educacionais, plataformas adaptativas e ambientes virtuais de aprendizagem permitem que as crianças interajam com o conteúdo de forma mais personalizada, no seu próprio ritmo e com maior engajamento.
Segundo Costa Jr. (2012), no livro Tempos digitais: ensinando e aprendendo com tecnologia, o uso de mídias digitais na escola representa uma nova gramática pedagógica. Nesse contexto, o letramento digital vai além do domínio técnico das ferramentas: trata-se da capacidade de compreender, criticar e produzir informações em ambientes digitais.
A pandemia de COVID-19 impulsionou o uso de tecnologias digitais na educação básica, escancarando desigualdades, mas também abrindo caminhos pedagógicos inovadores. Os dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil e do Quadro de Moradores (Cetic.br, 2025) revelam diferenças significativas na percepção e no relato do uso de tecnologia entre crianças e adultos responsáveis. O gráfico a seguir compara os indicadores de uso de computador, acesso à Internet e posse de celular entre 2021 e 2024, mostrando que crianças de 9 a 17 anos relatam índices mais elevados de uso tecnológico do que os declarados por seus responsáveis. Essa discrepância destaca a importância de considerar a voz dos estudantes e monitorar com atenção o uso real das tecnologias em casa e na escola. Além disso, reforça a necessidade de práticas pedagógicas que integrem criticamente os recursos digitais ao cotidiano escolar, respeitando as diferentes realidades de acesso.
"Gráfico 1 - Comparativo de respostas da população de 9 a 17 anos da TIC Kids Online Brasil e do quadro de moradores (2021-2024) (%)"

Letramento Digital: mais que acesso, uma competência crítica
Letramento digital é a capacidade de localizar, compreender, avaliar, criar e comunicar informações por meio de tecnologias digitais. De acordo com o CEALE (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da UFMG), trata-se de uma dimensão do letramento que considera o uso crítico, reflexivo e ético das tecnologias da informação e comunicação, incorporando os novos modos de leitura e escrita que emergem na cibercultura.
Essa competência envolve, portanto, não apenas habilidades técnicas e cognitivas, mas também sociais e culturais, permitindo aos indivíduos navegar, interagir e produzir conhecimento em ambientes digitais de maneira crítica, criativa e responsável.
A pesquisadora Roxana Morduchowicz (2021), doutora em Comunicação pela Universidade de Paris e consultora da UNESCO em temas de educação e tecnologias, destaca que a escola deve preparar os alunos para viver em uma cultura digital, o que inclui promover uma alfabetização crítica em relação às tecnologias. Isso é especialmente relevante no processo de alfabetização, uma fase essencial para o desenvolvimento do pensamento lógico, da leitura e da escrita.
Nesse sentido, Magda Soares, uma das principais referências brasileiras em alfabetização, afirma que o letramento deve ser compreendido como uma prática social que integra a aprendizagem da leitura e da escrita ao uso significativo desses conhecimentos no cotidiano. Ao transpor essa perspectiva para o contexto digital, torna-se evidente a necessidade de preparar as crianças para atuar em ambientes mediados por tecnologia, com competência leitora e autoria.
Corroborando essa visão, o artigo "Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura" (Soares et al., 2021), publicado na revista Educação & Sociedade, discute como a cibercultura introduz novas práticas sociais de letramento, exigindo da escola e dos educadores novas abordagens pedagógicas que considerem a multiplicidade de linguagens e suportes presentes no cotidiano digital das crianças.
Inteligência Artificial como ferramenta de personalização
A Inteligência Artificial (IA) tem se destacado por sua notável capacidade de adaptar conteúdos e atividades às necessidades específicas dos estudantes. Por meio de algoritmos sofisticados, é possível identificar padrões de erro, acompanhar o progresso de aprendizagem e fornecer feedbacks automatizados. Tais recursos promovem um aprendizado mais eficaz, personalizado e centrado no aluno.
Conforme defendem pesquisadores como Luckin et al. (2016), a IA apresenta grande potencial para transformar a educação ao apoiar práticas pedagógicas individualizadas. Um exemplo prático dessa aplicabilidade pode ser observado na plataforma Jovens Gênios, que tem explorado essas possibilidades com foco na trilha de alfabetização. A ferramenta permite intervenções pedagógicas mais assertivas a partir da análise de dados gerados por diversos relatórios disponíveis tanto para os professores quanto para as equipes de gestão escolar, favorecendo, assim, o acompanhamento contínuo e estratégico do desenvolvimento de cada estudante.
Adicionalmente, a plataforma oferece funcionalidades complementares baseadas em IA, como a geração automática de planos de aula personalizados, elaborados conforme as necessidades específicas de cada turma ou aluno. Essa funcionalidade é especialmente relevante no atendimento a estudantes com deficiência, permitindo ao educador criar trilhas de aprendizagem adaptadas às diferentes formas de aprender. As possibilidades de uso são amplas e diversificadas, ficando a critério e à criatividade do professor explorar os recursos disponíveis, sempre de forma alinhada ao planejamento pedagógico.
A relevância do uso da IA na educação também é enfatizada por organismos internacionais. O relatório da UNESCO intitulado "Construir o futuro: a IA nas políticas educacionais" (2021) ressalta a importância de empregar essa tecnologia com responsabilidade e equidade, garantindo que seu uso promova a inclusão e a melhoria dos resultados educacionais. O documento recomenda que as políticas públicas educacionais incorporem estratégias bem definidas para a integração da IA, desde que estejam alinhadas a princípios éticos, pedagógicos e de justiça social.
Desse modo, torna-se imprescindível que o uso da IA no processo de alfabetização esteja ancorado em práticas pedagógicas que considerem o desenvolvimento integral da criança.
A tecnologia deve ser encarada como uma aliada e não como substituta do professor, atuando como instrumento de apoio para potencializar tanto a aprendizagem quanto a personalização do ensino, sobretudo nos anos iniciais da vida escolar.
Gamificação: o lúdico como estratégia pedagógica
Gamificar a aprendizagem significa incorporar elementos característicos dos jogos ao processo educativo. Pontuação, desafios, rankings e recompensas tornam o ambiente de aprendizagem mais dinâmico, interativo e motivador.
Gee (2003) argumenta que os jogos criam contextos seguros nos quais os alunos podem errar, testar hipóteses e aprender de maneira significativa. No contexto da alfabetização, isso pode se traduzir em atividades digitais que desenvolvem a consciência fonológica, ampliam o vocabulário e reforçam estruturas linguísticas básicas de forma divertida e engajadora.
Na prática cotidiana da sala de aula, é possível utilizar jogos digitais para treinar a identificação de letras, formar palavras, explorar sons e até mesmo trabalhar a compreensão leitora por meio de narrativas interativas. O lúdico também favorece a inclusão, pois permite que cada criança participe e avance segundo suas possibilidades.
Professores que desejam ampliar seus repertórios sobre como aplicar a gamificação no processo de alfabetização podem encontrar recursos, atividades práticas e formações específicas na plataforma de formação continuada da Jovens Gênios.
O Papel Transformador dos Professores
Nesse novo cenário digital, o professor assume um papel ainda mais estratégico. Ele não é apenas facilitador, mas também curador de conteúdos, mediador de experiências e formador de cidadãos críticos. Para que possa integrar as tecnologias digitais com intencionalidade pedagógica e sensibilidade às realidades de seus alunos, a formação continuada torna-se fundamental.
Conforme Nogueira (2014), a tecnologia só transforma a educação quando o professor transforma sua prática. Essa mudança exige políticas públicas que garantam a valorização profissional, infraestrutura adequada e espaço para o protagonismo docente. A BNCC (2018), ao estabelecer a Competência Geral 5, reforça essa perspectiva ao tratar do uso crítico, ético e criativo das tecnologias digitais na vida pessoal e social.
Ao dialogar com esse cenário, é oportuno retomar os ensinamentos de Dermeval Saviani, que defende uma pedagogia histórico-crítica, na qual a educação atua como instrumento de transformação social. Para Saviani, cabe à escola – e ao professor – o papel de democratizar o acesso ao conhecimento historicamente produzido, garantindo o direito à aprendizagem plena e significativa. Assim, ao incorporar as novas tecnologias, o professor não rompe com sua essência formadora; ao contrário, amplia sua ação educativa e reafirma seu compromisso com a justiça social, desde que esse uso esteja a serviço da emancipação dos sujeitos e da equidade.
Portanto, é no cruzamento entre a teoria crítica e as inovações tecnológicas que se encontra o "pulo do gato" da prática docente contemporânea: utilizar o potencial das ferramentas digitais como meio para ampliar a inclusão, fortalecer a autonomia dos estudantes e tornar o processo de alfabetização e letramento verdadeiramente transformador.
Futuro da Alfabetização e do Letramento Digital
Com o avanço das plataformas inteligentes e do ensino híbrido, a tendência é que a alfabetização e o letramento digital se tornem cada vez mais personalizados, inclusivos e acessíveis. No entanto, essa evolução precisa estar conectada ao desenvolvimento integral das crianças e ao fortalecimento da relação entre professores, estudantes e comunidade escolar.
Na prática, é fundamental que os educadores estejam atentos às novas tendências, experimentem ferramentas digitais e acompanhem as mudanças nas formas de ler e escrever no ambiente digital. Leituras como o documento da UNESCO "Educação e tecnologia: uma agenda para o futuro" (2023) ou o relatório "Reimaginando nossos futuros juntos" (2021), que discutem o papel das tecnologias na construção de uma educação mais inclusiva e transformadora e as publicações da TIC Educação são ótimos pontos de partida.
D’Aurea-Tardeli (2012) destaca que a escola deve acolher as inovações sem perder de vista sua função social: formar sujeitos autônomos, críticos e sensíveis ao mundo que os cerca.
Para isso, a formação continuada é essencial. Recomendamos que os professores acompanhem os cursos e novidades da plataforma de formação da Jovens Gênios, que está sempre atualizada com práticas e conteúdos inovadores para a educação do século XXI.
Considerações Finais
O letramento digital e a alfabetização estão interligados na formação de crianças preparadas para os desafios do século XXI. Mais do que dominar ferramentas, é necessário compreender seus usos, implicações e potencialidades. A transformação digital na educação infantil exige investimento, planejamento e, sobretudo, confiança no poder transformador dos professores.
Para saber mais sobre esse e outros temas relacionados às inovações pedagógicas, fique atento às redes sociais, às plataformas e aos cursos da formação continuada da Jovens Gênios. Há sempre novos conteúdos, experiências e possibilidades para enriquecer sua prática docente com base nas demandas da educação contemporânea.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.
COSTA JR., Hélio Lemes. Tempos digitais: ensinando e aprendendo com tecnologia. São Paulo: Atlas, 2012.
D’AUREA-TARDELI, Denise. O cotidiano da escola: as novas demandas educacionais. São Paulo: Cortez, 2012.
GEE, James Paul. What video games have to teach us about learning and literacy. Palgrave Macmillan, 2003.
LUCKIN, R.; HOLMES, W.; GRIFFITHS, M.; FORD, M. Intelligence Unleashed: An Argument for AI in Education. Pearson, 2016.
MORDUCHOWICZ, Roxana. Los adolescentes y las redes sociales: la construcción de la ciudadanía digital. Editorial Fondo de Cultura Económica, 2021.
NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Práticas pedagógicas e uso da tecnologia na escola. Campinas: Papirus, 2014.
SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Campinas: Autores Associados, 1994.
SOARES, Magda et al. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação & Sociedade, Campinas, v. 42, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/es/a/zG4cBvLkSZfcZnXfZGLzsXb/?format=pdf&lang=pt.
TIC EDUCAÇÃO 2023. Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação nas escolas brasileiras. Cetic.br/NIC.br. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20230825143720/tic_domicilios_2022_livro_eletronico.pdf.
UNESCO. Construir o futuro: a IA nas políticas educacionais. Paris: UNESCO, 2021. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000391418_por.
UNESCO. Educação e tecnologia: uma agenda para o futuro. Paris: UNESCO, 2023.
UNESCO. Reimaginando nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação. Paris: UNESCO, 2021.
COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL (CGI.br). Estatísticas TIC para crianças de 0 a 8 anos de idade: pesquisa TIC Domicílios. São Paulo: Cetic.br/NIC.br, 2025. Disponível neste link .