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Crianças em foco: Tecnologia, Educação e o Futuro da Infância

*Artigo desenvolvido por: William Tavares - Graduado em Geografia e Especialista em Autismo e Gestão Educacional.

O Dia das Crianças, celebrado em 12 de outubro no Brasil, é mais do que uma data comemorativa. É um convite à reflexão sobre a infância, o papel da criança na sociedade e, especialmente, sobre como a educação, cada vez mais mediada pela tecnologia, molda o futuro das novas gerações. Nós vivemos um tempo em que o aprendizado se estende muito além da sala de aula. A criança de hoje cresce conectada, curiosa e imersa em um mundo digital que redefine o modo de aprender, conviver e se expressar.


A tecnologia como ferramenta de aprendizado


A presença da tecnologia na vida das crianças é inegável. Tablets, computadores e aplicativos educativos já fazem parte do cotidiano escolar e doméstico. Segundo Seymour Papert (1980), um dos primeiros a falar sobre educação digital, orienta que o computador pode ser um “instrumento de construção do conhecimento”, desde que seja usado para estimular o pensamento criativo e a resolução de problemas, e não apenas para repetir informações.

Lev Vygotsky (1934), em sua teoria sociocultural, reforça que o aprendizado é mediado por ferramentas e interações sociais. Hoje, a tecnologia atua como uma dessas ferramentas mediadoras, um meio de ampliar e desenvolver o contato com o conhecimento e também com o mundo.


Entretanto, é fundamental que o uso da tecnologia seja intencional e equilibrado, de modo que o digital complemente, e não substitua, as experiências humanas, o brincar e o contato afetivo.


O desenvolvimento cognitivo da criança


O desenvolvimento cognitivo é um dos pilares fundamentais da infância, pois envolve a construção do pensamento, da linguagem, da memória e da capacidade de resolver problemas. Jean Piaget (1970) descreve esse processo como uma sequência de estágios nos quais a criança interage ativamente com o meio, construindo e reconstruindo seu conhecimento. Essa interação é potencializada quando as experiências de aprendizagem incluem desafios significativos e situações concretas. Assim, a combinação entre brincadeira, interação social e uso consciente da tecnologia estimula o raciocínio lógico, a criatividade e a autonomia intelectual da criança.

A importância da educação inclusiva e o olhar sobre o autismo


A educação inclusiva é essencial para garantir que todas as crianças tenham oportunidades reais de aprender e se desenvolver, respeitando suas singularidades. No caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA), a inclusão vai muito além da presença física na sala de aula, ela requer adaptações pedagógicas, sensibilidade e empatia.

Autores como Maria Teresa Eglér Mantoan (2003) defendem que a escola deve ser um espaço de convivência, onde as diferenças se tornam fonte de aprendizado coletivo. O uso da tecnologia também pode favorecer a inclusão, oferecendo recursos de comunicação alternativa, jogos interativos e plataformas adaptadas que potencializam o desenvolvimento social e cognitivo das crianças autistas.


Mais do que adaptar conteúdos, é preciso acolher e compreender. Cada criança tem um ritmo, uma forma única de se expressar e aprender, e é papel da educação criar caminhos para que todas possam brilhar.


A criança e seu papel na sociedade


A criança ocupa um papel essencial na construção de uma sociedade mais justa, solidária e criativa. Para Paulo Freire (1996), educar é um ato político e libertador: a criança não deve ser um “recipiente de conteúdos”, mas um sujeito ativo, capaz de questionar, transformar e criar.


Nessa perspectiva, o adulto, seja pai, professor ou cuidador, torna-se mediador do desenvolvimento, alguém que incentiva a autonomia, a curiosidade e o senso crítico.

A sociedade contemporânea precisa olhar para a criança não como um “futuro adulto”, mas como um ser pleno no presente, com voz, sentimentos e direitos.


Educação e inteligência emocional


Com o avanço da tecnologia, cresce também a importância da educação socioemocional. O desafio atual não é apenas formar crianças competentes tecnicamente, mas emocionalmente inteligentes. De acordo com Daniel Goleman (1995), em sua obra inteligência emocional, a capacidade de reconhecer, compreender e gerir emoções, é tão essencial quanto o raciocínio lógico. Crianças emocionalmente desenvolvidas têm mais empatia, sabem lidar com frustrações e constroem relações mais saudáveis.


A escola e a família, juntas, devem promover espaços de diálogo, escuta e acolhimento, onde a criança aprenda não apenas a “usar a tecnologia”, mas também a ser humana em meio à tecnologia.


Reflexão final


Celebrar o Dia das Crianças é reconhecer que o futuro da humanidade se constrói no presente. A tecnologia é uma aliada poderosa da educação, mas precisa caminhar ao lado de valores humanos, ética e sensibilidade. Como destaca Rita Pierson (2013), educadora norte-americana, “toda criança precisa de um adulto que acredite nela”. E acreditar na criança é oferecer-lhe não só conhecimento técnico, mas também afeto, limites e oportunidades de expressar-se plenamente, com o coração e a mente conectados.


Referências bibliográficas


• FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

• GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.

• PAPERT, Seymour. Mindstorms: Children, Computers, and Powerful Ideas. New York: Basic

Books, 1980.

• PIAGET, Jean. A Psicologia da Criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.

• VYGOTSKY, Lev S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

• PIERSON, Rita. Every Kid Needs a Champion. TED Talk, 2013.

• MORAN, José Manuel. A Educação que Desejamos: Novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus, 2007.

• MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.



 
 
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