Curva do Esquecimento: Estratégias para Melhorar a Retenção dos Alunos e Garantir uma Aprendizagem Duradoura
- Felipe Diniz
- 11 de nov.
- 6 min de leitura
*Artigo desenvolvido por: Lhays Marinho da Conceição Ferreira - Doutora e Mestre em Educação.

Introdução
A Curva do Esquecimento, proposta pelo psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus em 1885, continua sendo um dos conceitos mais relevantes para a compreensão de como o ser humano retém e perde informações ao longo do tempo. A pesquisa de Ebbinghaus mostrou que, logo após o aprendizado, a memória humana começa a esquecer grande parte do conteúdo adquirido se ele não for revisado de forma sistemática. Esse fenômeno afeta diretamente o desempenho dos alunos, especialmente em um contexto educacional onde o volume de informações é cada vez maior.
Nos últimos anos, a quantidade de dados a que os alunos são expostos cresceu exponencialmente. Segundo a Forbes (2019), geramos 2,5 quintilhões de bytes de dados diariamente, o que tem um impacto direto na capacidade de retenção dos alunos, pois a sobrecarga de informações sobrecarrega os mecanismos de memória. Diante desse cenário, é fundamental que educadores implementem estratégias eficazes para combater o esquecimento e promover uma aprendizagem mais duradoura e eficaz.
Neste artigo, exploraremos os fundamentos da Curva do Esquecimento, seus impactos na educação contemporânea e as melhores estratégias para garantir a retenção de conhecimento. Vamos abordar também o modelo 2:2:2, desenvolvido pelo neurocientista Art Kohn, que oferece uma abordagem inovadora para maximizar a memória e garantir que os alunos apliquem o que aprendem de maneira mais eficaz.
A Curva do Esquecimento e o Estudo de Ebbinghaus
Hermann Ebbinghaus foi pioneiro no estudo da memória e esquecimento. Seu experimento, conduzido no final do século XIX, demonstrou que os seres humanos esquecem a maior parte das informações recém-adquiridas dentro de poucas horas ou dias, a menos que essas informações sejam revisadas de forma consistente. O gráfico da Curva do Esquecimento reflete o declínio da memória ao longo do tempo, com a retenção caindo drasticamente nas primeiras 24 horas após o aprendizado.

A imagem ilustra esse processo de forma clara: a linha azul representa o esquecimento natural, mostrando que, sem revisões, a retenção de conhecimento pode cair de cerca de 80% para menos de 20% em poucos dias. Já as outras curvas (em vermelho, amarelo, verde e azul-claro) mostram o efeito das revisões periódicas — realizadas algumas horas, um dia, uma semana e um mês depois do estudo inicial. A cada nova revisão, a curva se eleva novamente, indicando que o cérebro recupera e reforça a informação, tornando o esquecimento mais lento e menos acentuado. Dessa forma, as revisões espaçadas ajudam a transferir o conteúdo da memória de curto prazo para a memória de longo prazo, aumentando a fixação do conhecimento.
De modo geral, se você assistir a uma aula ou ler um conteúdo e não fizer nenhuma revisão, poderá lembrar algo em torno de 75% no final do mesmo dia — mas esse percentual cai para cerca de 50% no dia seguinte, e se aproxima de apenas 3% a 5% ao fim de um mês. Esse declínio revela a rapidez com que o esquecimento ocorre sem reforço. Por isso, para “quebrar” essa dinâmica, é essencial combinar não só a leitura inicial, mas também a elaboração de resumos ou marcação do conteúdo relevante — preferencialmente anotando à mão, com caneta de várias cores para fixar melhor — e depois programar revisões nos momentos-chave: logo após o estudo, 24 horas depois, uma semana, um mês e, em seguida, revisões de manutenção a cada 45 dias ou conforme necessário.
Ebbinghaus mostrou que revisões periódicas podem reduzir significativamente a taxa de esquecimento, ajudando a consolidar as informações na memória de longo prazo. Estudos subsequentes, como os de Roediger e Butler (2011), confirmaram a importância da revisão ativa e da prática de recuperação para melhorar a retenção de informações. Essas estratégias ajudam a combater o que Ebbinghaus chamou de “decadência natural” da memória.
Impacto da Sobrecarga de Informação no Aprendizado
Nas últimas décadas, a quantidade de informações à disposição dos alunos aumentou exponencialmente, e a sobrecarga de dados tornou-se um problema significativo para o processo de aprendizagem. Em um estudo publicado em 2019, Forbes destacou que o volume de dados globais gerados diariamente ultrapassa os 2,5 quintilhões de bytes, o que contribui para uma fadiga cognitiva que compromete a capacidade dos estudantes de reter informações importantes.
A sobrecarga de informações faz com que o cérebro humano, limitado em sua capacidade de processamento, tenha mais dificuldade em consolidar as informações recebidas na memória de longo prazo. Isso acentua o fenômeno da Curva do Esquecimento, aumentando a necessidade de estratégias pedagógicas que ajudem a combater o esquecimento e permitam que os alunos se concentrem no que realmente importa.
Em um mundo onde o excesso de dados é a norma, estratégias de revisão eficientes são fundamentais para garantir que os alunos possam filtrar, priorizar e reter o conhecimento mais relevante.
Estratégias de Revisão para Melhorar a Retenção
Para combater os efeitos da Curva do Esquecimento e garantir que o aprendizado seja duradouro, os professores precisam adotar estratégias pedagógicas baseadas em evidências. Entre as técnicas mais eficazes estão:
Revisões Sistemáticas
Uma das formas mais simples e eficazes de combater o esquecimento é realizar revisões regulares. A revisão sistemática, quando realizada em intervalos estratégicos, ajuda a reforçar o conhecimento e a consolidar as informações na memória de longo prazo. Estudos recentes sugerem que a revisão frequente logo após o aprendizado, seguida de intervalos crescentes, maximiza a retenção.
Prática de Recuperação
A prática de recuperação envolve solicitar que os alunos relembrem e apliquem o conteúdo aprendido, sem depender de consultas frequentes ao material de estudo. Pesquisas de Roediger e Butler (2011) mostraram que essa prática melhora significativamente a retenção do conteúdo, pois ativa as redes de memória de forma mais eficaz do que a simples releitura do material.
Testes Frequentes
Embora muitas vezes subestimados, testes frequentes são ferramentas poderosas para melhorar a retenção de informações. Ao serem testados regularmente, os alunos são forçados a recuperar o conhecimento, o que, por sua vez, fortalece as conexões neuronais relacionadas ao conteúdo. Esse efeito, conhecido como “efeito de teste”, foi amplamente estudado e demonstrado por Karpicke e Blunt (2011), que concluíram que testes frequentes são uma das formas mais eficazes de promover a retenção de longo prazo.
O Modelo 2:2:2 de Art Kohn: Uma Abordagem Inovadora
O modelo 2:2:2, desenvolvido pelo neurocientista Art Kohn, é uma estratégia prática que visa reforçar a memória e combater o esquecimento em três estágios distintos. O modelo propõe três eventos de reforço cognitivo e comportamental distribuídos ao longo de dois dias, duas semanas e dois meses após o aprendizado inicial. O objetivo é garantir que as informações sejam constantemente reforçadas, promovendo sua consolidação na memória de longo prazo. O modelo 2:2:2 é composto por três fases:
Dois Dias Após o Primeiro Contato: Reforço Cognitivo
O primeiro evento de reforço ocorre dois dias após o primeiro contato com o conteúdo. Nesse estágio, o objetivo é realizar um reforço cognitivo por meio de atividades como quizzes, exercícios de fixação ou testes rápidos. Esse tipo de atividade ajuda os alunos a recuperar o conhecimento de forma ativa, reforçando as conexões iniciais formadas no cérebro.
Duas Semanas Depois: Reforço Social
Duas semanas após o aprendizado inicial, o foco muda para o reforço social, que envolve discussões em grupo, debates ou qualquer atividade que permita a interação entre os alunos. A troca de ideias e a colaboração entre pares são fundamentais para aprofundar o entendimento e solidificar o conhecimento.
Dois Meses Depois: Reforço Comportamental
Finalmente, dois meses após o contato inicial com o conteúdo, o reforço comportamental é implementado. Nessa fase, os alunos são incentivados a aplicar o que aprenderam em projetos práticos, atividades ou desafios do mundo real. Essa aplicação prática não apenas reforça o aprendizado, mas também ajuda os alunos a transferir o conhecimento para contextos concretos, consolidando ainda mais a memória.
O modelo 2:2:2 é respaldado por pesquisas neurocientíficas sobre a plasticidade cerebral, que demonstram que a repetição distribuída ao longo do tempo é uma das formas mais eficazes de consolidar a memória. Art Kohn defende que essa abordagem estratégica permite que o aprendizado se torne parte integral da rotina dos alunos, melhorando significativamente a retenção.
Conclusão
A Curva do Esquecimento apresenta um desafio constante no processo educacional, mas, com as estratégias corretas, é possível combatê-la de maneira eficaz. Professores e educadores devem estar atentos às oportunidades de revisão e reforço do conteúdo aprendido, mesmo enquanto introduzem novas matérias. Métodos como revisões sistemáticas, prática de recuperação e o modelo 2:2:2 de Art Kohn são ferramentas valiosas para aumentar a retenção do conhecimento e promover uma aprendizagem mais duradoura.
Ao integrar essas estratégias no planejamento pedagógico, os educadores conseguem não apenas melhorar a performance acadêmica dos alunos, mas também preparar estudantes para aplicar o conhecimento de forma prática e significativa em diferentes contextos, garantindo um aprendizado que realmente faça diferença a longo prazo.
Referências Bibliográficas
Ebbinghaus, H. (1885). Über das Gedächtnis. Leipzig: Duncker & Humblot.
Kohn, A. (2019). Memory and Learning: The 2:2:2 Model. New York: Academic Press.
Roediger, H. L., & Butler, A. C. (2011). The Critical Role of Retrieval Practice in Long-Term Retention. Trends in Cognitive Sciences, 15(1), 20-27.
Karpicke, J. D., & Blunt, J. R. (2011). Retrieval Practice Produces More Learning than Elaborative Studying with Concept Mapping. Science, 331(6018), 772-775.
Forbes (2019). The Data Explosion: 2.5 Quintillion Bytes a Day. Retrieved from Forbes.



