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10 de Junho: A Celebração da Língua Portuguesa — de Camões a Bechara

Arte digital com fundo amarelo vibrante e elementos festivos. À esquerda, há a ilustração de uma mulher negra, de cabelos cacheados e curtos, usando um lenço verde na cabeça, brincos e blusa azul com camiseta branca. Ela sorri com os olhos fechados, em expressão de alegria. Ao fundo, há uma bandeira do Brasil, balões coloridos (azul, verde, laranja e vermelho), folhas verdes, estrelas e confetes espalhados. No canto superior direito, lê-se em letras brancas: "10 de Junho é dia de celebrar a Língua Portuguesa! Patrimônio de Todos Nós!"

Por que temos o Dia da Língua Portuguesa?


Celebrado em 10 de junho, o Dia da Língua Portuguesa é uma homenagem à rica herança cultural e literária compartilhada pelos países lusófonos. A data remete à morte de Luís Vaz de Camões, ocorrida em 1580, reconhecido como um dos maiores poetas da língua portuguesa. Camões eternizou o idioma por meio de sua obra mais célebre, Os Lusíadas, que exalta as conquistas marítimas de Portugal e a identidade nacional de seu povo.

Além de homenagear Camões, a data também é celebrada como o Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, refletindo o papel unificador da língua entre milhões de falantes ao redor do mundo.


A Língua Portuguesa no mundo


Com mais de 260 milhões de falantes distribuídos entre quatro continentes, a Língua Portuguesa é a quinta mais falada do planeta. É o idioma oficial de países como Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e, ainda, Macau (China).


Essa expansão global trouxe grande diversidade ao idioma, com variações regionais, culturais e históricas que o enriquecem continuamente. Mesmo com tantas particularidades, a Língua Portuguesa continua sendo um elo entre diferentes nações, unindo o que chamamos de comunidade lusófona.


— O termo “lusófona” é utilizado para designar os povos que compartilham a Língua Portuguesa. Vem de “Lusitânia”, nome dado ao território correspondente ao atual Portugal durante o Império Romano. Assim, falar em comunidade lusófona é referir-se a esse conjunto de nações que constroem pontes culturais, históricas e linguísticas por meio de um idioma comum.


A importância da Língua Portuguesa na educação e nas avaliações em larga escala


No Brasil, a Língua Portuguesa constitui um eixo estruturante da formação educacional. Mais do que um conteúdo escolar, ela representa a base dos processos de aprendizagem, da construção de sentido, da comunicação e da cidadania crítica.


Esse papel central é reafirmado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelece competências e habilidades essenciais ao longo da Educação Básica. O documento enfatiza que é por meio da linguagem que os sujeitos se inserem nas práticas sociais e constroem significados sobre o mundo.


A relevância da língua ultrapassa os limites da sala de aula. Ela está presente em avaliações como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) — que inclui a Prova Brasil — e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que medem não apenas o domínio da leitura e da escrita, mas também a capacidade de interpretação, argumentação e raciocínio crítico.


No contexto internacional, a avaliação PISA (Programme for International Student Assessment), organizada pela OCDE, também atribui grande peso à competência leitora como indicador de qualidade educacional. Além disso, a UNESCO reconhece a linguagem como um direito humano, um vetor de inclusão é um elemento essencial para o desenvolvimento sustentável.


Corroborando essa visão ampla, o estudo acadêmico de Fortes e Ferrarezi Júnior (2022) ressalta que o ensino da Língua Portuguesa no Ensino Fundamental deve ir além da abordagem mecanicista das normas gramaticais, buscando integrar letramento, oralidade e reflexão crítica. Os autores defendem que:


A escola deverá ser um espaço significativo de aprendizagem, com situações de ensino que informem e interpretem a vida, produzindo aprendizagens, habilidades e aptidões e, ao mesmo tempo, autonomia. O desenvolvimento das capacidades cognitiva, linguística e discursiva é fundamental para que qualquer pessoa possa ter uma plena participação social como indivíduo. (FORTES; FERRAREZI JÚNIOR, 2022, p. 266).


Essa abordagem reforça que a leitura e a escrita devem ser praticadas como ferramentas sociais de inserção e transformação, considerando a pluralidade de gêneros textuais e a relação entre linguagem e cidadania.


Assim, aprender a Língua Portuguesa vai muito além de memorizar regras gramaticais: trata-se de formar sujeitos críticos, leitores do mundo e protagonistas sociais — um compromisso assumido por políticas públicas nacionais, respaldado por parâmetros globais e reforçado por estudos educacionais contemporâneos.


Camões, a ABL e a tradição viva da língua


Camões representa mais do que a excelência literária. Sua obra é um marco na construção da identidade cultural lusófona. No Brasil, essa tradição é preservada e renovada por instituições como a Academia Brasileira de Letras (ABL), fundada por Machado de Assis em 1897.


Inspirada na Academia Francesa, a ABL tem como missão preservar o idioma, incentivar a produção literária e fortalecer a cultura nacional. Pertencer a essa instituição é reconhecimento simbólico da contribuição intelectual e linguística dos seus membros.


Entre os imortais que marcaram a história da língua estão:


  • Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, autor do Dicionário Aurélio, referência incontornável para a lexicografia brasileira;

  • Antonio Houaiss, responsável pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa;

  • Evanildo Bechara, um dos maiores gramáticos do Brasil, que revolucionou o estudo da Língua Portuguesa com sua Moderna Gramática Portuguesa.

  • Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Gilberto Freyre, que elevaram o português literário a novas dimensões poéticas e sociais;

  • Gilberto Gil, cuja obra mistura oralidade, política e cultura afro-brasileira, hoje imortal da ABL;

  • Fernanda Montenegro, ícone da dramaturgia, cuja trajetória mostra que a linguagem vai além da escrita;

  • Carolina Maria de Jesus, com sua denúncia poética em Quarto de Despejo;

  • Conceição Evaristo, cuja escrevivência transforma a língua em instrumento de resistência e ancestralidade.


Um pouquinho mais de Evanildo Bechara: guardião da língua


Falar da Língua Portuguesa no Brasil é, inevitavelmente, lembrar de Evanildo Bechara, filólogo, gramático e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2001. Reconhecido como um dos maiores estudiosos do idioma, Bechara dedicou sua vida ao ensino, à pesquisa e à valorização da língua portuguesa.


Autor da consagrada Moderna Gramática Portuguesa, publicada pela primeira vez em 1961, Bechara foi responsável por transformar a maneira como a gramática é compreendida no Brasil. Ao longo de suas edições, a obra acompanhou os avanços da linguística e os debates sociais, atualizando sua abordagem e promovendo uma visão mais contextualizada do ensino da língua.


Segundo especialistas, o grande mérito de Evanildo Bechara foi estabelecer uma ponte entre duas abordagens historicamente vistas como antagônicas: a gramática normativa e a linguística. Sua atuação foi decisiva para uma visão mais integrada do ensino da língua. Como ressalta o linguista Ataliba Teixeira de Castilho, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP): “Bechara atuou nas duas frentes de trabalho e, graças a ele, essa distinção tornou-se irrelevante” (Pesquisa FAPESP, 2025).


Ainda segundo o obituário do site Pesquisa FAPESP, além do rigor intelectual, Bechara é lembrado por sua erudição acessível. Privilegiava a norma culta, mas sem ortodoxia: assimilava também o uso popular e informal da língua, entendendo a linguagem como um fenômeno vivo, social e inclusivo. Essa visão plural também permeou sua atuação na Academia Brasileira de Letras, onde defendeu a democratização do acesso à leitura e à produção textual, especialmente no contexto da educação básica.


Sua trajetória permanece como referência incontornável para gerações de professores, pesquisadores e estudantes — um verdadeiro guardião da Língua Portuguesa, que soube unir tradição e transformação em sua obra e prática intelectual.


O compromisso da Jovens Gênios com a Língua Portuguesa e a BNCC


A plataforma Jovens Gênios valoriza profundamente o ensino da Língua Portuguesa como pilar essencial da educação. Por isso, todas as suas soluções pedagógicas são desenvolvidas em conformidade com a BNCC, promovendo o desenvolvimento das competências de leitura, escrita, interpretação e produção textual.


Além disso, os currículos locais de escolas, municípios e redes estaduais parceiras são respeitados e integrados à proposta da plataforma, garantindo identidade educacional e aderência às diretrizes nacionais. Essa integração contribui diretamente para o desempenho dos estudantes em avaliações externas e, principalmente, para uma formação linguística significativa e contextualizada.


Conclusão: Uma Língua Viva que Nos Conecta e Representa


O Dia da Língua Portuguesa, celebrado em 10 de junho, é muito mais do que uma homenagem à memória de Camões. É um convite à reflexão sobre a língua como um patrimônio histórico, cultural, educacional e afetivo. É reconhecer que o português — com todas as suas variações e expressões — é um instrumento poderoso de identidade, pertencimento e transformação social.


A Língua Portuguesa se faz presente na formação dos estudantes, nos documentos orientadores como a BNCC, nas avaliações em larga escala que avaliam competências de leitura e escrita (SAEB, PISA), nas diretrizes da UNESCO que defendem o direito à linguagem, e nos espaços de representação simbólica como a Academia Brasileira de Letras. Ela está nas ruas, nos livros, nas canções, nas redes e nos discursos de resistência.

Ao longo da história, intelectuais como Evanildo Bechara, Aurélio Buarque de Holanda e Antonio Houaiss ajudaram a moldar as bases do idioma. Mas também é preciso celebrar as vozes que reconfiguraram a linguagem a partir das margens — como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Gilberto Gil — mostrando que a língua também é território de luta, memória e criação.


Valorizá-la é também valorizar a diversidade linguística, a educação de qualidade, o direito à comunicação e o reconhecimento de que uma língua viva é feita por todos: pelos que a escrevem, e cantam, a reinventam e a ensinam — todos os dias.


📚 Referências bibliográficas


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