
Com o avanço da tecnologia e a crescente presença dos dispositivos móveis no cotidiano dos jovens, o debate sobre o uso de celulares nas escolas tornou-se uma questão crucial. O impacto desses dispositivos no ambiente educacional gera discussões em todo o mundo, envolvendo governantes, educadores e especialistas em educação. No Brasil, a temática ganhou ainda mais relevância com a proposta de um projeto de lei que visa regular ou até proibir o uso desses aparelhos em ambiente escolar.
De acordo com a pesquisa TIC Educação 2023, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, 20 estados já possuem leis que regulam o uso de celulares nas escolas, mas apenas 12% das escolas afirmam adotar essa medida de fato. A jornalista Júlia Lopes, em uma matéria da Rádio Senado, destaca essa discrepância, revelando que a regulamentação ainda não é amplamente praticada, apesar de sua adoção em âmbito legislativo em muitos estados .
Neste artigo, discutiremos os principais pontos dessa discussão, analisando tanto as vantagens quanto às desvantagens da proibição, e exploraremos como transformar o uso do celular em um aliado pedagógico.
UNESCO e o Projeto de Lei sobre a proibição do uso de celular nas escolas
A UNESCO, em seu relatório de 2023, trouxe à tona preocupações sobre os possíveis prejuízos causados pelo uso inadequado ou excessivo da tecnologia no ambiente educacional. De acordo com dados do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA), foi identificada uma correlação negativa entre o uso excessivo de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e o desempenho acadêmico dos alunos. Em 14 países analisados, a simples presença de um aparelho celular próximo aos estudantes foi suficiente para distraí-los, causando um impacto negativo no aprendizado.
A análise da UNESCO ressalta que, embora a tecnologia seja uma ferramenta poderosa, o uso desmedido em sala de aula pode prejudicar a concentração dos alunos, afetando seu desempenho acadêmico. Esse alerta sobre os impactos do uso excessivo de TICs, especialmente de celulares, levanta a necessidade de uma abordagem regulatória para garantir que a tecnologia seja utilizada de forma equilibrada no ambiente escolar.
No Brasil, essa questão ganhou destaque no Congresso Nacional. O senador Flávio Arns (PSB-PR), presidente da Comissão de Educação, defendeu a importância de debater o uso de celulares nas escolas, tanto públicas quanto privadas, ressaltando que a discussão está diretamente relacionada ao desenvolvimento físico e mental de crianças e adolescentes.
Para o senador, é crucial estabelecer regras claras para o uso de dispositivos móveis nas escolas, sempre priorizando o bem-estar dos estudantes. "O celular pode ser útil para muitas coisas, mas estamos falando de crianças e adolescentes, e a prioridade tem que ser o bem-estar", afirmou Arns, indicando que o debate sobre a proibição do uso de celulares deverá se intensificar no Congresso.
Além disso, o relatório da UNESCO alerta para as desigualdades no acesso às TICs, que podem acentuar as disparidades educacionais entre as escolas públicas e privadas. As escolas privadas geralmente têm maior acesso a recursos tecnológicos e formação docente adequada, enquanto muitas escolas públicas enfrentam desafios relacionados ao acesso à tecnologia, ampliando ainda mais as lacunas educacionais.
Diante desse cenário, a discussão sobre o uso de celulares nas escolas reflete a necessidade de um equilíbrio. O uso regulado da tecnologia pode promover melhorias no aprendizado, mas é fundamental considerar os impactos negativos do uso excessivo, além das condições socioeconômicas dos alunos, para que as TICs realmente favoreçam o desenvolvimento educacional.
Benefícios da proibição do celular: dados da TIC Educação 2023
A pesquisa TIC Educação 2023, produzida pelo “Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), vinculado ao NIC.br, tem como propósito fornecer indicadores e estatísticas sobre o acesso e o uso da Internet no Brasil. O Cetic.br divulga análises e informações periódicas sobre o desenvolvimento da rede no país, além de ser um Centro Regional de Estudos sob os auspícios da UNESCO.”
Essa pesquisa, recém divulgada, trouxe dados reveladores sobre o controle e uso de tecnologias nas escolas brasileiras, especialmente em relação ao acesso e à regulação do uso de dispositivos móveis, como os celulares. Embora a proibição total do celular nas escolas seja aplicada em apenas uma parcela das instituições, os dados mostram que medidas de controle são amplamente adotadas para restringir o uso indiscriminado desses dispositivos, e muitos gestores enxergam benefícios na limitação do uso do celular no ambiente escolar.
De acordo com os gráficos da pesquisa, 64% das escolas permitem o uso do celular em qualquer espaço ou horário, enquanto 28% regulam o uso para horários ou espaços específicos, e apenas 7% proíbem totalmente o uso de celulares. Essa distribuição mostra que, embora a proibição total ainda seja minoritária, há uma preocupação com a regulamentação e controle do uso, o que pode indicar uma busca por um equilíbrio entre o uso da tecnologia e o foco no aprendizado.
A pesquisa também aponta que a implementação de regras e restrições pode contribuir para um ambiente de aprendizado mais disciplinado e com menos distrações. Isso é corroborado por medidas de controle adicionais, como o bloqueio de acesso a redes sociais, adotado por 47% das escolas municipais, 32% das estaduais e 46% das particulares, além do bloqueio de acesso a sites com conteúdo inadequado, como violência ou pornografia, praticado por 70% das escolas privadas e 67% das públicas. Esses bloqueios visam reduzir as distrações digitais e manter os alunos focados nas atividades pedagógicas.
Além disso, o uso de software que bloqueia spam, lixo eletrônico ou vírus é aplicado em 61% das escolas particulares e 38% das escolas municipais, reforçando o cuidado com a segurança digital e o uso apropriado da tecnologia dentro do ambiente escolar. A presença de um monitor ou professor durante o uso de computadores ou internet é outro dado significativo, com 64% das escolas estaduais adotando essa medida, mostrando uma supervisão constante sobre o uso das tecnologias no espaço pedagógico.
Esses dados da TIC Educação 2023 evidenciam que, embora a proibição total do uso de celulares ainda seja uma medida limitada a um pequeno número de escolas, existe uma tendência clara de controlar e restringir o uso das TICs. Essas medidas buscam minimizar as distrações causadas pela tecnologia, além de proporcionar um ambiente mais focado e seguro para o aprendizado, especialmente em áreas onde o uso excessivo de dispositivos móveis pode prejudicar o desempenho acadêmico.
O caso dos EUA: A Nova Direção do Uso de Smartphones nas Escolas
Nos Estados Unidos, o uso de smartphones nas escolas passou por uma significativa mudança de abordagem nas últimas décadas. De acordo com Rodrigo Sánchez Paredes (2018), as escolas norte-americanas começaram a flexibilizar a proibição do uso de celulares, respondendo a uma demanda cada vez maior dos pais, que desejam manter a comunicação com seus filhos a qualquer momento.
Dados do National Center for Education Statistics mostram que o índice de escolas públicas que proibiam o uso de aparelhos eletrônicos caiu de 91% em 2009 para 66% em 2016. Essa mudança de postura, segundo Paredes, não ocorreu devido à aceitação mais ampla das redes sociais pelos estudantes, mas sim por preocupações com segurança. Com a crescente cobertura midiática de incidentes de violência em escolas, muitos pais passaram a ver o celular como uma ferramenta de proteção para seus filhos.
Entretanto, principalmente no período pós-pandemia, houve uma reviravolta nessa discussão. Segundo uma notícia recente do Jornal Band, alguns estados americanos estão reavaliando essa flexibilização. O estado da Califórnia, por exemplo, passou a proibir o uso de celulares nas escolas, seguindo uma tendência global. O governador Gavin Newsom apoiou a medida, destacando os efeitos negativos das redes sociais na saúde mental de crianças e adolescentes. Além da Califórnia, a Flórida também já implementou o banimento do uso de smartphones nas escolas, citando preocupações com o aumento do bullying online e o acesso dos alunos a conteúdos violentos.
Esse cenário revela uma nova fase na discussão sobre o uso de dispositivos móveis nas escolas americanas, com um movimento crescente de restrições motivado por preocupações com a saúde mental, especialmente em relação às consequências do tempo excessivo de tela entre os jovens, como o aumento da ansiedade. Essa preocupação é amplamente compartilhada por especialistas em saúde, educadores e pais, que veem a regulamentação como uma forma de proteger o bem-estar dos estudantes. Em meio a essa onda regulatória, o foco central é garantir que o ambiente escolar seja mais saudável e equilibrado para os alunos.
Transformando o tempo de tela em algo produtivo
Em vez de focar apenas nos malefícios, o celular pode ser visto como uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento da autonomia e da criatividade dos alunos. Plataformas educacionais, como a Jovens Gênios, são um exemplo claro de como o uso do celular pode ser aproveitado de forma produtiva. Através da gamificação e da inteligência artificial, a plataforma incentiva o aluno a ser mais ativo no processo de aprendizado, promovendo autonomia e oferecendo atividades individualizadas que atendem às necessidades específicas de cada estudante.
A promoção da autonomia e o estímulo à participação ativa dos alunos no processo de ensino-aprendizagem demonstram como o uso do celular pode ser transformado de um desafio em uma oportunidade. A chave está na criação de estratégias pedagógicas que utilizem essas ferramentas de forma eficiente, contribuindo para o desenvolvimento integral dos estudantes.
Além da Plataforma JG há diversos aplicativos que podem ajudar a tornar o tempo de tela mais produtivo e positivo, longe das redes sociais e mais voltado para o desenvolvimento pessoal e a saúde mental:
TED: O aplicativo oferece acesso à vasta biblioteca de palestras TED, com temas variados e influentes, legendadas em diversos idiomas. Os usuários podem favoritar, baixar, classificar e compartilhar palestras, transformando o tempo de tela em uma oportunidade para adquirir novos conhecimentos. Uma palestra imperdível para começar é sobre como a escola pode influenciar a criatividade, provocando reflexões importantes.
Peak: Brain Training Uma espécie de "academia" para o cérebro, o Peak oferece 15 jogos que desafiam a memória, agilidade mental, capacidade linguística, concentração e resolução de problemas. O aplicativo ainda fornece relatórios de desempenho, permitindo que os usuários identifiquem suas áreas mais fracas e as fortaleçam com treinamento específico.
5 Minutos, Eu Medito: É ideal para quem já tem o hábito de meditar, mas encontra dificuldade para manter a disciplina. Ele oferece lembretes para que o usuário faça uma pausa em suas atividades diárias e dedique alguns minutos à saúde mental, ajudando a reduzir o estresse e a ansiedade através da meditação regular.
Kindle: é o leitor de livros digitais da Amazon. Ao comprar um livro na opção Kindle, você estará comprando um e-book. Esse e-book poderá ser lido pelo aparelho Kindle ou pelo aplicativo Kindle, disponível para celulares e tablets.
Essas ferramentas mostram como o tempo de tela pode ser utilizado de maneira produtiva, promovendo o bem-estar e o desenvolvimento de habilidades cognitivas e emocionais. Ao integrar esses aplicativos no cotidiano dos estudantes, é possível transformar o uso da tecnologia em uma experiência enriquecedora, voltada para o crescimento pessoal.
O debate sobre o uso de celulares nas escolas continua sendo um tema central na educação contemporânea. Enquanto alguns defendem a proibição como uma maneira de melhorar a qualidade do ensino e reduzir distrações, outros veem o celular como uma ferramenta poderosa para o aprendizado.
A questão central não se limita à simples proibição ou liberação total, mas envolve uma série de fatores, como a regularização, restrições e, sobretudo, a qualidade do tempo de tela que os estudantes vivenciam. A chave está em como esse tempo é utilizado para enriquecer o processo educacional.
Com o avanço das tecnologias educacionais, como as plataformas de gamificação e a inteligência artificial (IA), o tempo de tela pode ser transformado em uma oportunidade produtiva, promovendo a autonomia e o engajamento dos alunos. O grande desafio é encontrar um equilíbrio no uso dessas tecnologias de maneira consciente e responsável, garantindo que elas contribuam de forma efetiva para o desenvolvimento educacional.
Esse é um tema amplamente discutido no cenário atual, especialmente com a implementação da IA na educação, que abre novos caminhos e possibilidades. Aqui no blog, abordamos diversos aspectos dessa questão, mostrando como a IA e outras inovações tecnológicas podem transformar o ensino e oferecer soluções adaptadas ao contexto escolar.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FERREIRA, Luiz Claudio. Seis em cada 10 escolas têm regras para uso do celular pelos alunos. Agência Brasil, 06 ago. 2024. Disponível Aqui.
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PAREDES, Rodrigo Sánchez. EUA: escolas desistem de proibir o uso de smartphones em sala de aula. TecMundo, 08 abr. 2018. Disponível Aqui.
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